14/06/2015

Dilma admite que Brasil passa por dificuldades, mas não está “doente”

Presidente concedeu entrevista ao Programa do Jô e defendeu o ajuste fiscal. Ao comentar críticas recebidas, diz que às vezes fica bastante triste porque "ninguém é de ferro"

No programa do Jô, Dilma Rousseff reconhece problemas, mas nega que país esteja "doente" - Reprodução_TV

A presidente Dilma Rousseff reconheceu que o país passa por “problemas e dificuldades” econômicas, mas enfatizou que são momentâneos. Ela afirmou, no entanto, que o Brasil não está “doente”. Em entrevista ao apresentador Jô Soares, da TV Globo, transmitida na madrugada deste sábado (13), a presidente também defendeu o ajuste fiscal comandado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e a continuidade de programas sociais nas áreas de saúde, de educação e de habitação mesmo com a aplicação das medidas do ajuste.

“Mesmo fazendo o ajuste, o Brasil não passa por uma situação em que ele é estruturalmente doente – pelo contrário –, ele está momentaneamente com problemas e dificuldades. Por isso, é importante fazer logo o ajuste para a gente sair mais rápido da situação. Acontece que nós temos de simultaneamente ao ajuste fazer investimentos em infraestrutura e manter programas sociais para não voltar para trás”, declarou a presidente.

A entrevista foi gravada na tarde de sexta-feira (12), no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência da República, e foi exibida madrugada deste sábado (13). O “Programa do Jô” dedicou os seus três blocos à conversa com Dilma. Foram debatidos temas como saúde, educação, crise na Petrobras e a economia do país. Essa foi a segunda vez que Dilma concedeu entrevista para Jô Soares. Em 2008, ela foi entrevistada pelo apresentador quando ainda era ministra da Casa Civil.

"O Brasil não passa por uma situação em que ele é estruturalmente doente – pelo contrário –, ele está momentaneamente com problemas e dificuldades"Presidente Dilma Rousseff

Questionada sobre a atual escalada dos preços dos alimentos, Dilma disse ficar "bastante agoniada" com a alta da inflação e afirmou que seu governo fará todos os esforços para controlar o aumento de preços. "Nós estamos esperando que melhore até o final do ano. A gente não pode chegar aqui e jurar, [pois] depende de coisas que também nós não controlamos", disse.

Ao defender as medidas para que a economia volte a crescer, a presidente afirmou que os investimentos do programa de habitação Minha Casa, Minha Vida serão mantidos. Também destacou o pacote de concessões para obras de infraestrutura lançado na última terça-feira (9) como ação importante para a retomada do crescimento econômico do país.

Política e crise na Petrobras

Durante a entrevista, Jô disse: “quem tem aliados como você, nem precisa de oposição”. O apresentador fazia uma referência à aliança frágil entre Executivo e a base aliada no Congresso Nacional. Ele chegou a mencionar os nomes dos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), como os líderes de rebeliões contra pautas de interesse do governo. Mas Dilma não respondeu a questões mais provocativas, apenas sorriu.


A presidente optou por defender o vice-presidente na articulação política com o Legislativo. “Eu acho o Temer um grande parlamentar, com muita experiência. É extremamente habilidoso", disse Dilma.

Perguntada sobre se tem pavio curto, Dilma declarou que não pode ser uma presidente mole.

“Eu tenho uma imensa capacidade de resistir. Aprendi isso ao longo da minha vida. Me prenderam e eu aprendi. Me botaram na cadeia e eu aprendi a resistir, a ter tranquilidade para você aguentar, sabendo que uma hora passa. Agora, eu acho que sou uma mulher dura no meio de homens meigos. Os homens são meigos e as mulheres, duras. Eu sou dura porque não posso ser uma presidente mole”, afirmou.

Os escândalos de corrupção envolvendo a Petrobras também foram rapidamente tratados. Dilma voltou a dizer que a estatal “virou a página” e destacou o prêmio que a empresa recebeu ao desenvolver exploração de petróleo em águas profundas como efeitos dessa melhora.

"A Petrobras não é um barquinho que você vira rapidamente. Passou um ano [após assumir a Presidência] e eu troquei a diretoria toda e coloquei uma diretoria da minha confiança. Foi isso o que eu fiz", afirmou a presidente, sobre a descoberta que ex-diretores da estatal estavam envolvidos no esquema de corrupção.

Dilma declarou ainda que no futuro o governo pode reduzir o número de ministérios como, por exemplo, a Secretaria da Pesca passar a compor o Ministério da Agricultura, mas disse que este momento ainda não chegou e não deu mais detalhes. O governo federal tem 39 ministros. A presidente também defendeu a manutenção de secretarias com status de ministérios como a de Políticas para as Mulheres, de Igualdade Racial e de Direitos Humanos. Segundo elas, essas pastas da área social são emblemáticas.


"Agora, se quer saber se fico triste? Fico sim. Algumas horas, bastante triste. Porque é aquele negócio: ninguém é de ferro"Presidente Dilma Rousseff

Democracia e imprensa

Perguntada sobre a prisão na ditadura, Dilma contou que durante aquele período não se tinha muito acesso a livros no cárcere e que se lia até bula de remédio. Também disse que um padre que esteve preso deixou uma bíblia na cela que foi dividida pelos presos políticos.

“Você tinha prazo para ler [a bíblia]. Ela dava volta e voltava. A bíblia é uma leitura fantástica, é uma leitura maravilhosa. Tem uma alta capacidade literária e histórica. Foi muito importante para mim porque ela trabalha com metáforas”, afirmou Dilma.

A presidente também destacou a importância de se viver em um país democrático. “O melhor remédio é a democracia. No Brasil, sempre tem de ter a livre manifestação. O Brasil não pode achar estranho [a ocorrência] de manifestações. Eu sempre defenderei a livre manifestação”, comentou.

Ainda sobre as críticas que tem sofrido, Dilma Rousseff reconheceu que fica triste com algumas reportagens publicadas na imprensa. “Presidente tem de conviver com isso, todo dia. Tem hora [que] eles exageram um pouco, pegam pesado. É da atividade pública. Eu não levo no pessoal. Agora, se quer saber se fico triste? Fico sim. Algumas horas, bastante triste. Porque é aquele negócio: ninguém é de ferro", disse a presidente.

Fonte: Redação.

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